Discussão: Orkut, eu te amo!

Orkut, eu te amo!


Oi Gente,
Li,Gostei,postei...


Por
Gilberto Amendola | Não é você, sou eu ter, 30 de set de 2014 09:50 BRT


No meu último login, eu era um caubói desavisado - entrando e saindo das casas, bares e lojinhas. Na tentativa de chamar atenção, atirei para o alto. Mas nem o xerife, nem a donzela, nem o bêbado do pedaço, ninguém apareceu. Estavam todos mortos. O Orkut havia se transformado em uma cidade fantasma.

Hoje, dia 30 de setembro, oficializou-se o fim da nossa primeira rede social.

Nós éramos felizes no Orkut.

Pelo menos, éramos 10 anos mais jovens. Virtualmente, mais inocentes, bocós e descomprometidos. Eu não tinha 2538 opiniões, não carregava tantas bandeiras, essas certezas brutais sobre qualquer coisa que se mexe ou não. Um tempo em que o ódio político e partidário ainda não havia descoberto a força da internet - e as bestas homofóbicas, racistas e machistas sequer sabiam como ligar um computador.

Entrei no Orkut por causa de uma mulher. Para descobrir quem ela era, do que ela gostava e se tinha namorado. “Será que ela me aceita no Orkut?” - foi minha primeira angústia virtual (um inferno que não desaparece com o fim do Orkut).

Aceitou. Mas, óbvio, tinha namorado.

Lembro dos “scraps” que viravam meu dia do avesso, do “testimonial” que garantia, por A + B, que ela me achava um cara legal, e, claro, lembro do dia em que ela tirou o “namorando” do status (e que eu comemorei, no meio da sala, como se fosse um gol). Ah, lembro que a gente tinha meia dúzia de comunidades em comum - e outras tantas que me apressei em entrar para forjar mais proximidade com ela.

Lembro da nossa primeira foto de Orkut. Foto tirada naquele momento em que ainda não estava claro se éramos amigos ou namorados. Uma foto de fronteira, de quase lá, uma foto de coração na boca.

Olhando agora, ou melhor, olhando da última vez que andei pela cidade fantasma, percebo que estava tudo, desde o primeiro clique, registrado naquelas fotos. Qualquer pessoas com alguma sensibilidade poderia prever que aquele amor não duraria dois verões virtuais, aquele amor não veria a luz do Facebook, Twitter e de outras redes. Nosso relacionamento só tinha razão naquele espaço, naquele contexto de scraps escritos com afobação.

No Orkut, experimentei, pela primeira vez, o ciúme. Muitos da minha idade tiveram essa mesma experiência. Nós, que éramos tão “pra frente”, perdíamos horas investigando a vida, os contatos, os recados, das nossas respectivas namoradas.

Sair do Orkut, depois de uma briga ou uma separação, era um ato teatral, shakespeariano e cheio de significados. Ninguém, simplesmente, saía do Orkut. As pessoas se “suicidavam” no Orkut.

Sim, um tiro virtual na nossa cabeça oca. Um dia você era o rei do pedaço, mas no outro…BAM! Cadê o fulano? Se suicidou! No Orkut…

Esse tipo de suicídio costumava durar alguns meses. Depois de passada a raiva, as pessoas ressuscitavam. Eram convidadas a entrar no Orkut novamente - e davam uma nova chance a vida virtual. Ressuscitar no Orkut era uma espécie de “bom, finalmente, te esqueci” - o que não era verdade em 99% dos casos.

Eu me suicidei no Orkut por causa de uma mulher. Eu ressuscitei no Orkut por causa de uma mulher. Tive a experiência completa, a vivência toda, transcendi, aproveitei.

Na última vez que andei pelas ruas vazias da cidade fantasma, vi pessoas mortas, gente que mudou de vida, gente que melhorou, piorou, cresceu e se apequenou.

Na última vez que andei pelas ruas vazias da cidade fantasma, visitei cada pedaço do meu passado, me reconheci em alguns, fui estrangeiro em outros, tive vergonha, orgulho e algum carinho.

Na última vez que andei pelas ruas vazias da cidade fantasma, você não estava mais lá.

Desta vez, não me suicidei no Orkut, mas todo mundo foi embora.

Conversei com meus fantasmas pela última vez. Tomei um trago de uísque que repousava tranquilo no balcão de um saloon imaginário, dei uma olhada em volta, assobiei para o meu cavalo e parti em direção ao sol.

Orkut, eu te amo.

Créditos:Yahoo/Gilberto Amendola




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