Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira



Dança, bailarina, dança...

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Dança, bailarina, dança...

Põe nos teus passos toda a harmonia

E toda a poesia nas pontas de teus pés

Em gestos nobres, faze surgir a fé!!!


Gira, bailarina, gira...

Vai girando e semeando amor,

Mais depressa que as voltas do mundo,

Pra que haja tempo de matar a dor!


Baila, bailarina, baila...

Traze contigo a primavera

Pra florir os campos, florescendo a Terra,

Numa explosão de cores que tua dança encerra.


Faze de tua arte uma suave prece

Capaz de enternecer os corações de pedra

Faze tua música soar tão alto

Calando assim os estopins da guerra!!!


Mostra ao Homem que o teu bailado

Expressa a vida nesse simples ato...

Onde o amor é tudo, onde o amor é nato.


Que em teus saltos ponhas tua garra

Seguindo sempre a luz de teu clarão,

Quebrando muros para unir os povos

Num universo único, onde se deem as mãos.


Abre tua alma, no esplendor da dança...

Não desistas nunca e verás, enfim,

Bailar no campo, doce e cálida esperança,

Em meio às flores de um lindo jardim...


Carmen Lúcia Carvalho de Souza






Soneto Do Maior Amor

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Maior amor nem mais estranho existe

Que o meu, que não sossega a coisa amada

E quando a sente alegre, fica triste

E se a vê descontente, dá risada.


E que só fica em paz se lhe resiste

O amado coração, e que se agrada

Mais da eterna aventura em que persiste

Que de uma vida mal-aventurada.


Louco amor meu, que quando toca, fere

E quando fere vibra, mas prefere

Ferir a fenecer - e vive a esmo


Fiel à sua lei de cada instante

Desassombrado, doido, delirante

Numa paixão de tudo e de si mesmo


Vinicius de Moraes








Fernando Pessoa

Ó sino da minha aldeia

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Ó sino da minha aldeia,

Dolente na tarde calma,

Cada tua badalada

Soa dentro da minha alma.


E é tão lento o teu soar,

Tão como triste da vida,

Que já a primeira pancada

Tem o som de repetida.


Por mais que me tanjas perto

Quando passo, sempre errante,

És para mim como um sonho.

Soas-me na alma distante.


A cada pancada tua

Vibrante no céu aberto,

Sinto mais longe o passado,

Sinto a saudade mais perto.








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O Tempo

Mário Quintana


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando de vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é natal…

Quando se vê, já terminou o ano…

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado…

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.

Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.

A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.








Poema del renunciamiento

José Angel Buesa

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Pasarás por mi vida sin saber que pasaste.

Pasarás en silencio por mi amor y, al pasar,

fingiré una sonrisa, como un dulce contraste

del dolor de quererte, y jamás lo sabrás.


Soñaré con el nacar virginal de tu frente;

soñaré con tus ojos de esmeralda de mar;

soñaré con tus labios desesperadamente;

soñaré con tus besos, y jamás lo sabrás.


Quizá pases con otro que te diga al oído

esas frases que nadie como yo te dirá;

y, ahogando para siempre mi amor inadvertido,

te amaré más que nunca, y jamás lo sabrás.


Yo te amaré en silencio, como algo inaccesible,

como un sueño que nunca lograré realizar;

y el lejano perfume de mi amor imposible

rozará tus cabellos, y jamás lo sabrás.


Y si un día una lágrima denuncia mi tormento,

el tormento infinito que te debo ocultar,

te diré sonriente: "No es nada... Ha sido el viento."

Me enjugaré la lágrima... y jamás lo sabrás!








A que está sempre alegre

Charles Baudelaire

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Teu ar, teu gesto, tua fronte

São belos qual bela paisagem;

O riso brinca em tua imagem

Qual vento fresco no horizonte.


A mágoa que te roça os passos

Sucumbe à tua mocidade,

À tua flama, à claridade

Dos teus ombros e dos teus braços.


As fulgurantes, vivas cores

De tuas vestes indiscretas

Lançam no espírito dos poetas

A imagem de um balé de flores.


Tais vestes loucas são o emblema

De teu espírito travesso;

Ó louca por quem enlouqueço,

Te odeio e te amo, eis meu dilema!


Certa vez, num belo jardim,

Ao arrastar minha atonia,

Senti, como cruel ironia,

O sol erguer-se contra mim;


E humilhado pela beleza

Da primavera ébria de cor,

Ali castiguei numa flor

A insolência da Natureza.


Assim eu quisera uma noite,

Quando a hora da volúpia soa,

Às frondes de tua pessoa

Subir, tendo à mão um açoite,


Punir-te a carne embevecida,

Magoar o teu peito perdoado

E abrir em teu flanco assustado

Uma larga e funda ferida,


E, como êxtase supremo,

Por entre esses lábios frementes,

Mais deslumbrantes, mais ridentes,

Infundir-te, irmã, meu veneno!







Só eu Sinto Bater-lhe o Coração

Miguel Torga

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Dorme a vida a meu lado, mas eu velo.

(Alguém há-de guardar este tesoiro!)

E, como dorme, afago-lhe o cabelo,

Que mesmo adormecido é fino e loiro.


Só eu sinto bater-lhe o coração,

Vejo que sonha, que sorri, que vive;

Só eu tenho por ela esta paixão

Como nunca hei-de ter e nunca tive.


E logo talvez já nem reconheça

Quem zelou esta flor do seu cansaço...

Mas que o dia amanheça

E cubra de poesia o seu regaço!






Laço

Mário Quintana

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Meu Deus! Como é engraçado!

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço… uma fita dando voltas.

Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.

É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.


É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido,

em qualquer coisa onde o faço.

E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando…

devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.


Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.

E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.

Ah! Então, é assim o amor, a amizade.

Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.


Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,

deixando livre as duas bandas do laço.

Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.

E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.


E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.

Então o amor e a amizade são isso…

Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.

Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!









Obsessão do mar...

Mario Quintana

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Vou andando feliz pelas ruas sem nome?

Que vento bom sopra do Mar Oceano!

Meu amor eu nem sei como se chama,

Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...


Mas há vasos cobertos de conchinhas

Sobre as mesas... e moças na janelas

Com brincos e pulseiras de coral...

Búzios calçando portas... caravelas

Sonhando imóveis sobre velhos pianos...


Nisto,

Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,

E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,

De su'alma perdida e vaga na neblina...

Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!


Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,

Uma caixa de música

Uma bússola

Um mapa figurado

Uns poemas cheios de beleza única

De estarem inconclusos...

Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!

E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...

Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,

Quando eu também já não tiver mais nome.






Pela flor amarela viajaremos

Cecília Meireles

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Pela flor amarela viajaremos:

afastaremos as nuvens espessas

e as florestas de espinhos.


Pela flor amarela, vamos e voltamos,

por escadas escuras, corredores estreitos,

falando a desconhecidos.


Onde está, dizei-nos, a flor amarela?

Era minha? era vossa? era do seu próprio instante,

era sua, cativa por algum caçador floral?


Pela flor amarela atravessaremos a pedra,

o vidro, o metal, as palavras.

Atravessaremos o coração, como quem se mata.


Atravessaremos um novo mar desconhecido,

correremos Áfricas e Ásias, pólo e tropico,

e jogaremos nossa vida entre as estrelas.


A flor amarela está guardada em si mesma,

seu perfume, sob mil pétalas tranqüilas,

seu pólen resguardado contra o vão descobrimento.


Cecília Meireles

In: Poesia Completa

Sonhos (1950-1963)




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