Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira



E se for amor?

Cáh Morandi


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Respiro fundo.

Experimento, re-experimento.

O beijo, nada mais que um beijo.

Tremo, desabo, desfaleço.


Aquele riso trai meu bom senso.

Enlouqueço, me permito, desatino.

E me dou, e me entrego.

De corpo, de alma.


E de repente,

Estou morrendo, estou vivendo.

E se for amor?

Se tudo isso foi só um beijo...







Balada

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Amei-te muito, e eu creio que me quiseste

Também por um instante nesse dia

Em que tão docemente me disseste

Que amavas ‘ma mulher que o não sabia.


Amei-te muito, muito!Tão risonho

Aquele dia foi, aquela tarde!…

E morreu como morre todo o sonho

Deixando atrás de si só a saudade! …


E na taça do amor, a ambrosia

Da quimera bebi aquele dia

A tragos bons, profundos, a cantar…


O meu sonho morreu… Que desgraçada!

E como o rei de Thule da balada

Deitei também a minha taça ao mar …


Florbela Espanca - Trocando olhares






Compra-me uma flor?
Didi Leite

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Boa Noite!
Senhor, compra uma flor?
Pode escolher, tenho buquê de
rosas, violetas, azaleias,
margaridas, amores perfeitos.
Mas se quiser tenho orquídeas,
girassóis, agapantos e lírios.

Senhor, leve para sua amada,
para a moça dos seus sonhos,
a que passa e não o vê,
a que diz que o esqueceu,
a que finge não lhe querer
ou para aquela que pode aparecer.

São flores alcoviteiras,
tecem casos de amor
a vida inteira.
São flores de amor,
que falarão pelo senhor.

Boa noite, senhor!
Quer comprar uma flor?





A primeira palavra do teu corpo...

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Aproxima o teu coração

e inclina o teu sangue

para que eu recolha

os teus inacessíveis frutos

para que prove da tua água

e repouse na tua fronte

Debruça o teu rosto

sobre a terra sem vestígio

prepara o teu ventre

para a anunciada visita

até que nos lábios humedeça

a primeira palavra do teu corpo


Mia Couto







Como te amo?

Elizabeth Barrett Browning

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Como te amo? Deixa-me contar de quantas maneiras.


Amo-te até ao mais fundo, ao mais amplo
e ao mais alto que a minha alma pode alcançar
buscando, para além do visível dos limites
do Ser e da Graça ideal.


Amo-te até às mais ínfimas necessidades de todos
os dias à luz do sol e à luz das velas.
Amo-te com liberdade, enquanto os homens lutam
pela Justiça;


Amo-te com pureza, enquanto se afastam da lisonja.
Amo-te com a paixão das minhas velhas mágoas
e com a fé da minha infância.


Amo-te com um amor que me parecia perdido - quando
perdi os meus santos - amo-te com o fôlego, os
sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida!


E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor depois da morte.







Cuidado!

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Ó namorados que passais, sonhando,

quando bóia, no céu, a lua cheia!

Que andais traçando corações na areia

e corações nos peitos apagando!


Desperta os ninhos vosso passo… E quando

pelas bocas em flor o amor chilreia,

nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,

se são as aves que se estão beijando…


Mais cuidado! Não vá vossa alegria

afligir tanta gente que seria

feliz sem nunca ouvir nem ver!


Poupai a ingenuidade delicada

dos que amaram sem nunca dizer nada,

dos que foram amados sem saber!


Guilherme de Almeida





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O laço de fita

Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!

Meu Deusl As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepital
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.


Castro Alves, nascido 14 de março de 1847 em Curradinho






Languidez

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Tardes da minha terra, doce encanto,

Tardes duma pureza de açucenas,

Tardes de sonho, as tardes de novenas,

Tardes de Portugal, as tardes d’Anto,


Como eu vos quero e amo! Tanto! Tanto!…

Horas benditas, leves como penas,

Horas de fumo e cinza, horas serenas,

Minhas horas de dor em que eu sou santo!


Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,

Que poisam sobre duas violetas,

Asas leves cansadas de voar…


E a minha boca tem uns beijos mudos…

E as minhas mãos, uns pálidos veludos,

Traçam gestos de sonho pelo ar…


Florbela Espanca

Flor Bela de Alma da Conceição

Vila Viçosa | Portugal, 8 de dezembro de 1894

Matosinhos | Portugal, 8 de dezembro de 1930





Amar-te

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Amar-te, só amar-te, e construir

amor e mais amor no amor já feito,

amor quase infinito, amor perfeito,

amor em flor, florindo o que há-de vir.


E ao amar-te assim, quero sentir

que o meu amor por ti não está no peito:

percorre toda a pele, a carne, o leito,

regressa à boca a tempo de sorrir.


Que amor é este amor, esta vontade

de nunca te perder e de escrever-te

sabendo que és a própria liberdade?


E em cada dia que não posso ver-te

não tenho vida, tempo, nem idade,

não tenho nada que não seja ter-te.


Joaquim Pessoa





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Não sabes, criança... Estou louco de amores...

Castro Alves




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