Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira




Até amanhã...

loiva-ferreira-carneiro5e7cf33e9af30.jpg



Sei agora como nasceu a alegria,

como nasce o vento entre barcos de papel,

como nasce a água ou o amor

quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma

à roda do corpo que desperta,

sílaba espessa, beijo acumulado,

amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,

um grito apertado nos dentes,

galope de cavalos num horizonte

onde o mar é diurno e sem palavras.


Falei de tudo quanto amei.

De coisas que te dou para que tu as ames comigo:

a juventude, o vento e as areias.


Eugênio de Andrade



Stars.png





Os Meus Versos
Florbela Espanca


039c515dec1d4243347b512a2af793cb--woman-


Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era o teu esse olhar que os inspirou?

Adivinhaste? Eu não posso acreditar
Que adivinhasses, vês? E até, sorrindo.
Tu disseste para ti: "Por um olhar
Somente, embora fosse assim tão lindo.

Ficar amando um homem!... Que loucura!"
- Pois foi o teu olhar; a noite escura,
(Eu só a ti digo, e muito a medo...)

Que inspirou esses versos! Teu olhar
Que eu trago dentro d'alma a soluçar!
Aí não descubras nunca o meu segredo!

Stars.png





O dia abriu seu para-sol bordado

Mário Quintana


dc0025a6cc2eac2a6b6062f3f423a1fa.jpg



O dia abriu seu para-sol bordado

de nuvens e de verde ramaria.

E estava até um fumo, que subia,

mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.


Depois surgiu, no céu arqueado,

a Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.

Na rua, um menininho que seguia

parou, ficou a olhá-lo admirado…


Pus meus sapatos na janela alta,

sobre o rebordo… Céu é que lhes falta

pra suportarem a existência rude!


E eles sonham, imóveis, deslumbrados,

que são dois velhos barcos, encalhados

sobre a margem tranquila de um açude…


Stars.png





Se eu pudesse...


loiva-ferreira-carneiro5e835576d915a.jpg


Se eu pudesse dizer-te: - senta aqui

nos meus joelhos, deixa-me alisar-te,

ó amável bichinho, o pelo fino;

depois, a contrapelo, provocar-te!


Se eu pudesse juntar no mesmo fio

(infinito colar!) cada arrepio

que aos viageiros comprazidos dedos

fizesse descobrir novos enredos!


Se eu pudesse fechar-te nesta mão,

tecedeira fiel de tantas linhas,

de tanto enredo imaginário, vão,

e incitar alguém - Vê se adivinhas…

Então um fértil jogo amor seria.

Não este descerrar a mão vazia!


Alexandre O'Neil



Stars.png





Eu Já Não Sei

António Zambujo

45b30f312cda2e757568a4eb880d5207.jpg




Eu já não sei

Se fiz bem ou se fiz mal

Em pôr um ponto final

Na minha paixão ardente

Eu já não sei

Porque quem sofre de amor

A cantar sofre melhor

As mágoas que o peito sente


Quando te vejo e em sonhos sigo os teus passos

Sinto o desejo de me lançar nos teus braços

Tenho vontade de te dizer frente a frente

Quanta saudade há do teu amor ausente

Num louco anseio, lembrando o que já chorei

Se te amo ou se te odeio

Eu já não sei


Eu já não sei

Sorrir como então sorria

Quando em lindos sonhos via

A tua adorada imagem

Eu já não sei

Se deva ou não deva querer-te

Pois quero às vezes esquecer-te

Quero, mas não tenho coragem



Stars.png





A Soma dos Talentos


Michel Quoist


loiva-ferreira-carneiro5eac3910bb1b7.jpg



Se a nota dissesse:
Não é uma nota que faz uma música...
Não haveria sinfonia.

Se a palavra dissesse:
Não é uma palavra que pode fazer uma página...
Não haveria livro.

Se a pedra dissesse:
Não é uma pedra que pode montar uma parede...
Não haveria casa.

Se a gota dissesse:
Não é uma gota que pode fazer um rio...
Não haveria oceano.

Se o grão de trigo dissesse:
Não é um grão de trigo que pode semear um campo. ...
Não haveria colheita.

Se o homem dissesse:
Não é um gesto de amor que pode salvar a humanidade, jamais haveria justiça e paz, dignidade e felicidade na terra dos homens.

Como a sinfonia precisa de cada nota.
Como o livro precisa de cada palavra.
Como a casa precisa de cada pedra.

Como o oceano precisa de cada gota de água.
Como a colheita precisa de cada grão de trigo.

A humanidade inteira precisa de ti, pois onde estiveres, és único e, portanto, insubstituível.







O Tempo Passou Por Mim...

Guilherme de Almeida

dd49862e2f3a5f1df0bc71d3b1ba1752.jpg


O tempo passou por mim,

mas eu não passei por ele.

Eu sempre fui como aquele

meu recanto de jardim:


- se um amor se desfolhou

como uma rosa sozinha,

foi só por causa da minha

primavera que passou;


se estalou o coração

de uma cigarra indolente,

foi simplicissimamente

porque passou o verão;


se as folhas partiram sós,

foi que, roçando os seus galhos,

e os meus cabelos grisalhos,

o outono passou por nós;


e se os ninhos já não têm

o doce calor das penas

palpitantes, é que apenas

o inverno passou também.


O tempo passou por mim,

mas eu não passei por ele.

Eu sempre fui como aquele

meu recanto de jardim.




A Boca Do Sonho

Stella de Sanctis

loiva-ferreira-carneiro5efe557409ff8.jpg



Não é a razão que tolhe

O transbordar da alma,

É o medo inconfesso.


Não me entendas paradoxo,

Nem utópica a malha que me veste.

Mal pousam teus reflexos nas vagas,

Minhas mãos te reconhecem.


Colibri dantesco sou música do sempre.

Leva-me... E te ensino o caminho,

Tresmalhando o fio do tempo.


Nem de vidro, nem de vento,

Matreiro, obreiro-arquiteto,

Expando-me em torrentes,

Silaba-se, insipiente.


... Sou começo,

Sutil, ao prumo do alento,

Graça embutida na semente.


Stella de Sanctis







Hoje Sonhei-te...

loiva-ferreira-carneiro5f0b96dab1d03.jpg


Hoje sonhei-te comigo

Tudo parecia caminhar ao nosso lado

Cada som era a melodia

Que nossos sentidos ansiavam

E até o silêncio cantava

O nosso sonho.


Hoje sonhei-te comigo

O tempo ganhou asas

Tu eras o ontem, o hoje, o sempre...

E a tua presença preencheu o vazio do tempo.


Hoje sonhei-te

Para lá de tudo

Sem mágoas, egoísmos, traições...

Um quadro de vida a duas cores

Um quadro de sonho

Meu e Teu


Hoje sonhei-te comigo

E não queria acordar...


Lua-verde (Portugal)







Lágrima

loiva-ferreira-carneiro5f0ba1376aef3.jpg



Lágrima por lágrima hei de te cobrar

Todos os meus sonhos que tu carregaste, há de me pagar

A flor dos meus anos, meus olhos insanos de te esperar.

Os meus sacrifícios, meus medos, meus vícios, hei de te cobrar.


Cada ruga que eu trouxer no rosto, cada verso triste que a dor me ensinar,

cada vez que no meu coração, morrer uma ilusão, há de me pagar.

Toda festa que adiei, tesouros que entreguei, a imensidão do mar.

As noites que encarei sem Deus, na cruz do teu adeus, hei de te cobrar.


A flor dos meus anos, meus olhos insanos, de te esperar.

Os meus sacrifícios, meus medos, meus vícios, hei de te cobrar.

Cada ruga que eu trouxer no rosto, cada verso triste que a dor me ensinar,

cada vez que no meu coração morrer uma ilusão, há de me pagar.

Toda festa que adiei, tesouros que entreguei, a imensidão do mar.

As noites que encarei sem Deus, na cruz do teu adeus, hei de te cobrar...

Lágrima por lágrima.


Composição: Roque Ferreira / Sophia De Mello Breyner





Deixe sua opinião ou comentário

Para responder um tópico é necessário participar da comunidade.