
" Certo dia, uma senhora, usando um vestido muito velho de algodão já desbotado, e o marido, que envergava um velho fato feito à mão, desceram do comboio em Boston, EUA, e tranquilamente dirigiram-se para o gabinete do reitor da universidade.
O casal vinha de Palo Alto, na Califórnia, e não havia marcado qualquer reunião. A secretária, olhando -os de relance, suspeitou que eram da província e que dificilmente seriam recebidos pelo reitor.– Ele vai estar ocupado o dia todo – respondeu rispidamente a secretária.
– Não nos importamos e vamos esperar.
A secretária ignorou -os horas a fio, na esperança de que finalmente desistissem. Mas não foi o que aconteceu. Eles continuaram pacientemente a aguardar. Já bastante frustrada, a secretária decidiu incomodar o reitor, embora detestasse fazê-lo.
– Se o senhor falar com eles apenas por alguns minutos, talvez resolvam ir-se embora – disse.
O reitor suspirou, irritado mas concordou com a proposta. Alguém da sua importância não tinha tempo para atender gente modesta, mas como não apreciava vestidos desbotados nem fatos puídos no gabinete, anuiu em recebê-los. De rosto fechado, dirigiu -se ao casal e pediu -lhe que lhe dissessem a razão da inesperada visita.
– O nosso filho estudou em Harvard durante um ano – explicou a mulher. Ele amava Harvard e foi muito feliz aqui. Mas morreu há um ano num acidente, e nós gostávamos de erigir um monumento em sua honra em algum lugar do campus.
– Minha senhora – disse rudemente o reitor –, não podemos erigir uma estátua para cada pessoa que estudou em Harvard e morreu. Se o fizéssemos, este lugar pareceria um cemitério.
– Oh, não – respondeu a senhora. – Não queremos erigir uma estátua. Gostávamos de doar um edifício à Universidade de Harvard.
– Queremos falar com o reitor – pediu o homem educadamente, em voz baixa.
O reitor olhou para o vestido desbotado de Jane e para o velho fato do marido, e exclamou:
Deliciem-se com esta crônica da Marta Medeiros.
PUDIM
Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir pudim de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido.
Um só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí, a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um pudim bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro
um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente.
OK?
Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.
------------------- - Autoria Geral Desconheda - ⁀⋱❀⁀⋱
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