Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira




Nuvens dos olhos meus, de altas chuvas paradas

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Nuvens dos olhos meus, de altas chuvas paradas,

- por chãos de adeuses vão-se os dias em tumulto,

em noites ermas e saudades longe morre.


Sem testemunha vão passando as horas belas.

Tudo que pôde ser vitória cai perdido,

Sem mãos, sem posse, pela sombra, entre os planetas.


Tudo é no espaço - desprendido de lugares.

Tudo é no tempo - separado de ponteiros.

E a boca é apenas instrumento de segredos.


Por que esperais, olhos severos, grandes nuvens?

Tudo se vai, tudo se perde, - e vós, detendo,

num preso céu, fora da vida, as águas densas


de inalcançáveis rostos amados!


Cecilia Meireles






O verbo amar

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Te amei: era de longe que te olhava

e de longe me olhavas vagamente...

Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,

que a alma da gente faz escrava.


Te amava: como inquieto adolescente,

Tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava

adivinhando esse mistério ardente

do mundo, em cada beijo que te dava.


Te amo: e ao te amar assim vou conjugando

os tempos todos desse amor, enquanto

segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando...


Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,

e é por ti que o repito no meu canto:

te amei, te amava, te amo e te amarei!


JG de Araújo Jorge





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Língua Portuguesa
Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!






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Solidão


Aproximo-me da noite

o silêncio abre os seus panos escuros

e as coisas escorrem

por óleo frio e espesso


Esta deveria ser a hora

em que me recolheria

como um poente

no bater do teu peito

mas a solidão

entra pelos meus vidros

e nas suas enlutadas mãos

solto o meu delírio


É então que surges

com teus passos de menina

os teus sonhos arrumados

como duas tranças nas tuas costas

guiando-me por corredores infinitos

e regressando aos espelhos

onde a vida te encarou


Mas os ruídos da noite

trazem a sua esponja silenciosa

e sem luz e sem tinta

o meu sonho resigna


Longe os homens afundam-se

com o caju que fermenta

e a onda da madrugada

demora-se de encontro

às rochas do tempo


Mia Couto






O que tu és...

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És Aquela que tudo te entristece
Irrita e amargura, tudo humilha;
Aquela a quem a Mágoa chamou filha;
A que aos homens e a Deus nada merece.

Aquela que o sol claro entenebrece
A que nem sabe a estrada que ora trilha,
Que nem um lindo amor de maravilha
Sequer deslumbra, e ilumina e aquece!

Mar-Morto sem marés nem ondas largas,
A rastejar no chão como as mendigas,
Todo feito de lágrimas amargas!

És ano que não teve Primavera...
Ah! Não seres como as outras raparigas
Ó Princesa Encantada da Quimera!...

Florbela Espanca
Livro de Soror Saudade






A inquietude da roseira

Alfonsina Storni

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A roseira em seu inquieto modo de florescer

Vai queimando a seiva que alimenta seu ser.

Prestai atenção nas rosas que caem no rosal:

Tantas caem que a planta morrerá deste mal!

Não é adulta a roseira e sua vida impaciente

Se consome ao dar flores precipitadamente.


(Trad. De Cristiane Carvalho e Manolo Graña)








As Pombigna
Juó Bananére
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''P'ru aviadore chi pigó o tombo

Vai a primiéra pombigna dispertada,
I maise otra vai disposa da primiéra;
I otra maise, i maise otra, i assi dista maniera,
Vai s'imbora tutta pombarada.

Pássano fóra o dí i a tardi intêra,
Catáno as formiguigna ingoppa a strada;
Ma quano vê a notte indisgraziada,
Vorta tuttos in bandos, in filêra.

Assi tambê o Cicero avua,
Sobí nu spaço, molto alê da lua,
Fica piqueno uguali d'un sabiá.

Ma tuttos dia avua, allegre, os pombo!...
Inveis chi o Muque, desdi aquilio tombo,
Nunga maise quiz sabe di avuá.''

Juó Bananére





Soneto para navegar

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Há um tempo na vida que supomos

ter vencido sem trauma nem feridas

olvidando o sangrar das despedidas

sofridas nos poentes dos outonos...


E há um tempo de rosas renascidas

dos áridos desertos que nós somos

não obstante o estio vão os pomos

adoçando o penar de nossas vidas!


Ainda há um tempo que a saudade

como um rio que chora de piedade

nosso pranto carrega para o mar...


E vai além o nosso amor profundo

cantando no crepúsculo do mundo

a canção que a razão faz navegar!


Afonso Estebanez Stael







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Amar é ter um pássaro pousado no dedo.

Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,

a qualquer momento, ele pode voar.


Rubem Alves







Decifra-me
Eduardo Baqueiro
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Não me pergunte se te amo
Jamais te direi com palavras
Meus sentimentos por ti
Sou sinônimo de mistério

Não terás as respostas pelos
meus lábios
Tampouco te direi como obtê-las
Terás que descobrir...

Talvez através do brilho dos meus
olhos quando olhas para mim
Talvez pelo tom de minha voz
quando te falo do meu amor

Ou talvez, quem sabe, pela maneira
que te toco, quando estamos a sós
Descubra você mesmo,
Mas não me perguntes

Não te direi com palavras
Saberás,
se souberes procurar...
Se realmente me amas como dizes,
acharás as respostas...

Elas estão fragmentadas em mim
Aos poucos,
montarás um quebra cabeça
E, se no final,
souberes interpretar a charada,
saberás o que sinto por ti

Mas não demores muito
tentando me entender.
Não conseguirás, eu sei!
Somente... decifra-me se puderes

Enquanto isto, me ame,
como jamais amou
Abra seu coração para mim
E deixa-me ser dono de teu amor

Se te sentires feliz,
talvez descubras o quanto te amo.




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