
1. Havia um golpe da esquerda em gestação? A deposição de Jango foi um contragolpe?
Francisco Dornelles, filiado ao PTB, primo em segundo grau de Getúlio Vargas e sobrinho de Tancredo Neves, assistiu pela televisão, na França, ao comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964. “A TV francesa dava grande destaque ao presidente João Goulart”, diz Dornelles, hoje senador (PP-RJ). Jango decretou a nacionalização de refinarias de petróleo, o congelamento dos preços dos aluguéis e a desapropriação de terras às margens de rodovias federais para a reforma agrária. “A revolução comunista no Brasil começou hoje”, disse um colega de Dornelles, membro do Partido Comunista na Bulgária. “Ele anunciou coisas que, na Bulgária, levamos anos para conseguir. Os adversários acabarão com ele.”
Após o comício, Jango pediu ao Congresso poderes especiais para aprovar as reformas de base, um conjunto de medidas de cunho popular, como a reforma agrária. Dezoito dias depois, Jango foi derrubado. Militares brasileiros tiveram a mesma interpretação do jovem búlgaro – e fizeram o que ele disse que fariam. Jango flertava com o populismo e dava sinais à esquerda. O mundo vivia a Guerra Fria, com países divididos entre os blocos capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e socialista, ligado à União Soviética. Em 1959, Cuba tornou-se comunista. O medo de uma revolução comunista no Brasil unia políticos de direita e militares e os Estados Unidos.
Tablet Mirage 41t Quad... Por apenas R$ 192,75
CLIQUE AQUI
Tablet Multilaser M7 8... Por apenas R$ 288,70
CLIQUE AQUI
Tablet Multilaser ML S... Por apenas R$ 274,55
CLIQUE AQUI
Tablet Bravva BV 8GB W... Por apenas R$ 269
CLIQUE AQUI
>> 1964: O ano que não terminou
O pedido ao Congresso alarmou a oposição por dizer que “são elegíveis os alistáveis”. O mandato de Jango terminaria em 1965, mas a oposição entendeu que um golpe se ensaiava. Jango se apoiaria nos sindicatos e nos partidos de esquerda para mudar a Constituição e se candidatar à reeleição. Os sinais pareciam claros. “Se não dermos o golpe, eles o darão contra nós”, dizia Leonel Brizola, cunhado de Jango e governador do Rio Grande do Sul. O governador de Pernambuco, Miguel Arraes, afirmava o mesmo. “Volto certo de que um golpe virá. De lá ou de cá, ainda não sei.”
Os aliados de Jango confiavam em que tinham a seu lado uma fatia das Forças Armadas – o “dispositivo militar” janguista. Quando os militares, de forma desorganizada, botaram os tanques na rua para destituir Jango, o “dispositivo” janguista não apareceu e não houve resistência ao golpe. “Não há evidência empírica de que Jango planejasse um golpe”, afirma o historiador Carlos Fico. “Mas suas declarações e o pedido de poderes especiais ao Congresso dão força à ideia de que pretendia dar um golpe.” Ainda hoje, militares da reserva dizem que a destituição de Jango foi um contragolpe preventivo. De certo, nem direita nem esquerda estavam interessadas na manutenção da ordem constitucional vigente em 1964.
MEDO
Trabalhadores no comício da Central do Brasil, que deu força à ideia de que Jango ensaiava um golpe
(Foto: Domicio Pinheiro/Estadão Conteúdo/AE)2. Os golpistas chegaram com um plano para instalar uma ditadura?
Não. O golpe foi desfechado improvisadamente. O dia 31 de março de 1964 começou com o general Olímpio Mourão Filho, que não estava entre os conspiradores de maior patente, vestido com um robe de seda vermelho, fazendo anotações em seu diário. Depois, pegou o telefone e anunciou que partiria de Juiz de Fora, em Minas Gerais, rumo ao Rio de Janeiro. Até o meio do dia, continuava parado. Tirou uma soneca após o almoço e só então pôs seus homens na rua. Tropas pretensamente leais ao presidente Jango deixaram o Rio, para brecar as de Mourão. No dia seguinte, o Exército se uniu contra Jango. Acuado, ele deixou o governo, mais facilmente do que esperavam os golpistas. Uma vez no poder, os militares não tinham um plano de governo. Na posse como presidente, em 15 de abril, Castelo Branco prometeu devolver a Presidência a um sucessor eleito. “Ninguém adivinhou o que viria depois”, diz Jorge Ferreira, autor de 1964.