Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira





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A Flor Do Cárcere


Nascera ali – no limo viridente

Dos muros da prisão – como uma esmola

Da natureza a um coração que estiola –

Aquela flor imaculada e olente…


E ele que fôra um bruto, e vil descrente,

Quanta vez, numa prece, ungido, cola

O lábio seco, na úmida corola

Daquela flor alvíssima e silente!…


E – ele – que sofre e para a dor existe –

Quantas vezes no peito o pranto estanca!..

Quantas vezes na veia a febre acalma,


Fitando aquela flor tão pura e triste!…

– Aquela estrela perfumada e branca,

Que cintila na noite de sua alma…


Euclides da Cunha [...]






A esta hora...

Florbela Espanca


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A esta hora branda d'amargura,

A esta hora triste em que o luar

Anda chorando, Ó minha desventura

Onde estás tu? Onde anda o teu olhar?


A noite é calma e triste... a murmurar

Anda o vento, de leve, na doçura

Ideal do aveludado ar

Onde estrelas palpitam... Noite escura


Dize-me onde ele está o meu amor,

Onde o vosso luar o vai beijar,

Onde as vossas estrelas co fulgor


Do seu brilho de fogo o vão cobrir!

Dize-me onde ele está!... Talvez a olhar

A mesma noite linda a refulgir...







A Dança/ Soneto XVII

Pablo Neruda

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Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio

ou flecha de cravos que propagam o fogo:

amo-te como se amam certas coisas obscuras,

secretamente, entre a sombra e a alma.


Te amo como a planta que não floresce e leva

dentro de si, oculta a luz daquelas flores,

e graças a teu amor vive escuro em meu corpo

o apertado aroma que ascendeu da terra.


Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

te amo diretamente sem problemas nem orgulho:

assim te amo porque não sei amar de outra maneira,


senão assim deste modo em que não sou nem és

tão perto que tua mão sobre meu peito é minha

tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.







Chamo-te Amor

São Reis

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Chamo-te amor

porque não sei chamar-te

de outra maneira

porque amar-te é uma ferida

que não para de sangrar

porque me transbordas o peito

e te alojas no mais recôndito de mim


Chamo-te amor

porque me ferves o sangue

e te aninhas nos meus lábios

porque me fazes esquecer a noite

e ver a forma das estrelas


Chamo-te amor

porque me fazes feliz

e infeliz ao mesmo tempo

porque me fazes sorrir e chorar

porque a vida sem ti

não tem qualquer sentido

mas contigo é um tormento

porque sinto o peso demasiado

nuns ombros que já se me vergam

e porque a carne te reclama

sempre que não estás


Chamo-te amor...mas serás mesmo

o meu amor

ou uma doença da qual eu não sei viver sem?!









As Folhas Mortas

Jacques Prévert

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Oh! Gostaria tanto que você se lembrasse

Dos dias felizes onde nos éramos amigos

Naquele tempo a vida era mais bela

E o sol mais brilhante do que é hoje

As folhas mortas juntamos com a pá

Você vê, eu não me esqueci

As folhas mortas juntamos com a pá

As lembranças e os arrependimentos também.


E o vento do norte leva-as.

Na noite fria do esquecimento

Você vê, eu não me esqueci

A canção que você me cantava.

É uma canção que é semelhante a nós.

Você, que me amava e eu te amava.

E nós vivíamos sempre juntos

Você que me amava, eu que te amava.


Mas a vida separa aos que se amam.

Tão docemente, sem fazer barulho.

E o mar apaga sobre a areia

Os passos dos amantes separados

As folhas mortas juntamos com a pá

As lembranças e os arrependimentos também

Mas o meu amor, silencioso e fiel

Sempre sorri e é grato pela vida.


Eu te amei tanto, você estava tão bonita.

Como você espera que eu esqueça?

Naqueles dias, a vida era mais bonita

E o sol mais brilhante do que é hoje.

Você era meu doce amigo

Mas eu não tenho nenhum arrependimento

E a música que você cantou,

Sempre, sempre vou ouvi-la!







Como eu queria...

José Gabriel Duarte

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Quero ler-te

Lentamente

Verso a verso

Como se fosses poesia.


Quero sentir-te

Lentamente

Gota a gota

Como se fosses maresia.


Respirares-me

Boca a boca

Lentamente


Como eu queria.






Poeminha amoroso

Cora Coralina

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Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."






A Inigualável

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Ai, como eu te queria toda de violetas

E flébil de cetim...

Teus dedos longos, de marfim,

Que os sombreassem joias pretas...


E tão febril e delicada

Que não pudesse dar um passo -

Sonhando estrelas, transtornada,

Com estampas de cor no regaço...


Queria-te nua e friorenta,

Aconchegando-te em zibelinas -

Sonolenta,

Ruiva de éteres e morfinas...


Ah! que as tuas nostalgias fossem guizos de prata -

Teus frenesis, lantejoulas;

E os ócios em que estiolas,

Luar que se desbarata...


.........................
.........................

Teus beijos, queria-os de tule,

Transparecendo carmim -

Os teus espasmos, de seda...


— Água fria e clara numa noite azul,

Água, devia ser o teu amor por mim...



Mário de Sá Carneiro

(1890-1916)








A Nossa Casa

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A nossa casa, Amor, a nossa casa!

Onde está ela, Amor, que não a vejo?

Na minha doida fantasia em brasa

Constrói-a, num instante, o meu desejo!


Onde está ela, Amor, a nossa casa,

O bem que neste mundo mais invejo?

O brando ninho aonde o nosso beijo

Será mais puro e doce que uma asa?


Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,

Andamos de mãos dadas, nos caminhos

Duma terra de rosas, num jardim,


Num país de ilusão que nunca vi...

E que eu moro - tão bom! - dentro de ti

E tu, ó meu Amor, dentro de mim...



Florbela Espanca








As flores exalam perfume de amor...

Regina Azenha

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Vim

para entregar-te

estas flores...


Elas

exalam

o perfume

da minha afeição

mais profunda...


Que ao tocá-las

possas sentir

a essência da pureza,

a sublimação e a beleza

do amor que nutro por ti...




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