Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira



A saudade mata a gente…

Rubem Alves

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Saudade é um buraco dolorido na alma.

A presença de uma ausência.

A gente sabe que alguma coisa está faltando.

Um pedaço nos foi arrancado.

Tudo fica ruim.

A saudade fica uma aura que nos rodeia.

Por onde quer que a gente vá, ela vai também.

Tudo nos faz lembrar a pessoa querida.

Tudo que é bonito fica triste, pois o bonito

sem a pessoa amada é sempre triste.

Aí, então, a gente aprende o que significa amar:

esse desejo pelo reencontro que trará a alegria de volta.

A saudade se parece muito com a fome.

A fome também é um vazio.

O corpo sabe que alguma coisa está faltando.

A fome é a saudade do corpo.

A saudade é a fome da alma.





Amo-te Sem Saber Como

Pablo Neruda

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Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio

ou seta de cravos que propagam o fogo:

amo-te como se amam certas coisas obscuras,

secretamente, entre a sombra e a alma.


Amo-te como a planta que não floriu e tem

dentro de si, escondida, a luz das flores,

e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo

o denso aroma que subiu da terra.


Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,

amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:

amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,


a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,

tão perto que a tua mão no meu peito é minha,

tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.


in "Cem Sonetos de Amor"






Amor... Feito poesia

Euclides Cavaco

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Amor...

É um conceito divino,

É dimensão sem medida,

É viagem sem destino,

É melodia da vida.

Amor...

É um caminho sem fim,

É não ter que perdoar,

É não querer e dizer sim,

É dar tudo o que há p'ra dar !…

Amor...

É voz da razão que cala,

É ter dor e não sentir,

É o silêncio que fala,

É ver o mundo sorrir.

Amor...

É sopro de nostalgia,

É canção leve e suave,

É das trevas fazer dia,

É saber de quem não sabe.

Amor...

É bem mais que sentimento,

É sussurro de magia,

É da alma o alimento,

Amor...

É hoje aqui…feito poesia!…






Eu quero apenas amar-te lentamente

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Eu quero apenas amar-te lentamente

Como se todo o tempo fosse nosso

Como se todo o tempo fosse pouco

Como se nem sequer houvesse tempo.


Joaquim Pessoa





Canção do exílio

Gonçalves Dias

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Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.


Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar — sozinho, à noite —

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.






Desejo

Gonçalves Dias

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Ah! que eu não morra sem provar, ao menos

Sequer por um instante, nesta vida

Amor igual ao meu!

Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre

Um anjo, uma mulher, uma obra tua,

Que sinta o meu sentir;

Uma alma que me entenda, irmã da minha,

Que escute o meu silêncio, que me siga

Dos ares na amplidão!

Que em laço estreito unidas, juntas, presas,

Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem

Num êxtase de amor!

In Primeiros Cantos, 1846





Coroai-me de Rosas

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Coroai-me de rosas,

Coroai-me em verdade,

De rosas —


Rosas que se apagam

Em fronte a apagar-se

Tão cedo!


Coroai-me de rosas

E de folhas breves.

E basta.



Ricardo Reis, in "Odes"






Derradeira Saudade

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Paixão fugaz... Ventura passageira...

Rosa que não colhemos da roseira,

Mas que esteve, no galho, ao nosso alcance.

Ah! Quanta vez, num desespero mudo,

Eu quedo-me a cismar naquilo tudo,

Que encheu de sol nosso cruel romance!


Bendigo ainda os beijos que maldizes,

Que abriram na minhalma cicatrizes,

Que encheram de ambrosias nossa boca;

Só me consola, nesta dor pungente,

Lembrar que te adorei perdidamente,

Lembrar que me adoraste como louca!


Mudaste muito, eu sei... Mas, com certeza,

Nas horas de saudade e de tristeza,

Em que a alma chora e o coração nos trai,

Hás de pensar em mim de quando em quando,

Com lágrimas nos olhos relembrando

- Toda essa história que tão longe vai!


Paulo Setúbal

In Alma Cabocla (Moita de Rosas), 1920






Amor em versos...

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"O amor não se define.
Não cabe em palavras.
Amor é um afago,
Ladeado de procura

Amor é um coração em eco,
Pulsando sem ritmo.
Um olhar cego.
A ternura de um sorriso

O amor é a alma que fala.
Poema que não acaba.
Gestos que não se aprende.
É tudo, nunca um pouco

O amor é vida.
É o universo em sonho.
É vento num labirinto,
Onde perdido... me encontrei".



Bruno de Paula






Canção

Gonçalves Dias

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Tenho uma harpa religiosa,

Toda inteira fabricada

De madeira preciosa

Sobre o Líbano cortada.

Foi o Senhor quem me deu,

De santas palmas coberta,

Que as notas suas concerta

Aos sons do saltério hebreu!


Tenho alaúde polido

Em que antigos Trovadores,

Em tom de guerra atrevido,

Cantavam trovas de amores.

Mas chegando a Santa Cruz,

De volta do meu desterro,

Cortei-lhe as cordas de ferro,

Cordas de prata lhe pus.


Tenho também uma lira

De festões engrinaldada,

Onde minha alma afinada

Melindres d'amor suspira.

Nas grinaldas, nos festões,

Nas rosas com que s'enflora,

Goteja o orvalho da aurora

Dictamo dos corações.


Eis o que tenho, ó Donzela,

Só harpa, alaúde e lira;

Nem vejo sorte mais bela,

Nem coisa que lhe eu prefira.

Votei assim ao meu Deus

A minha harpa religiosa,

A ti a lira mimosa,

O grave alaúde aos meus!




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