
∞∞ Minha Vida Mortal ∞∞
Eu, Anissa Morales Crowley, nasci em 12 denovembro de 1925, período entre guerras, o país se encontrava em um ponto aparentemente tranquilo. Se bem que não me recordo de muita coisa desse período, eu era apenas uma criança, nascida em família humilde, com dois irmãos Cloud e Marcos e duas irmã Ana e Melissa , na qual Ana morreu aos 3 anos, de alguma doença, dessas que as famílias do interior não tinham condições de tratar.
Em 1º de setembro de 1939 estourava a 2ªGuerra Mudial. Meus irmãos foram convocados para ir ao campo de batalhaem 1941. Minha mãe ficara muito triste e meusirmãos relutantes, mas eles precisavam ir, pois as consequências eram meio severas com os desertores. Eles não queriam ir, mas eu tinha vontade de estar lá.Em 1942, aos 18anos, já entendendomais sobre guerra, decidi, contra a vontade de meus pais, e de casamento arranjado contra minha vontade, ajudar atratar de nossos feridos, então fugi para realizar meus desejos, mesmo tendo noção dos perigos que poderiam me atingir.
Em 1944, fomos enviados à França, num ataquemais conhecido como "OperaçãoOverlord”, confronto naparte da França dominada pelos alemães.
Acho que isso que nuncairei esquecer. Foi uma das coisas que mais marcaram minha vida. Antes da não vida.
Houve um grande bombardeio no início da noite,e o que mais ouvíamos eram aviões sobrevoarem os territórios. Se eram aviões inimigos ou aliados, só saberíamos ao ouvir explodirem as bombas. Ali ajudamos muitas pessoas, mas o mais “marcante”,foi um Capitão, bem acho que era um capitão mesmo, pelo que eu me recordo... (Anissa leva a mão na cabeça, coçando ao pé da orelha com uma cara de dúvida) é que às vezes minha memória falha... as coisas e imagens também somem, é normal... acabamos esquecendo das coisas que acontecem em nossa vida quando ainda somos vivos, mas enfim, o mais marcante foi o corpo de um oficial que um Tenente trouxe até nossa tenda armada em meio a um campo. Era a tenda de socorro alidada mais próxima do local do ataque. Era mais ou menosmeia-noite, ou uma da manhã... isso eu nãoesqueço. Ele pediu para que deixássemos o corpo alique logo viriam outros oficiais em busca delee então se retirou da tendanovamente rumoao conflito.
Deitamos o corpo dooficial em uma maca. Ao seu lado, foram colocados uma submetralhadora e uma espada grande, bem adornada, e com algumas escritas ao pé de sua lâmina.(E eu lá sabia que tipo de espada era... eu tinhaa obrigação de cuidar de feridos, não de ficar tentando definir os tiposde espada, que um doido, em pleno século XX no meio de uma guerra usaria). “Maluco... com tantas armas por aí, essa espada talvez tenha apenas um simbolismo para ele” pensei.E então osoutros se retiraram, e eu fiquei ali observando-o por algum tempo. Era um homem branco, nesse momento (risos) ele já se encontravapálido como qualquer defunto, possuía cabeloslouros, alto, de corpo bem definido, com algumas cicatrizes perceptíveis em meio aquela farda outrora cinza, mas no momento,quase toda coberta de vermelho, marcada pelosangue de nossos inimigos, com uma pequena bandeira do seu paíse algumas condecorações, e medalhas ornando osombros e os bolsos da camisa. Por curiosidade, mexi em sua farda e escondido, pendurado em seu pescoço, junto àplaqueta que o identificava como Bryan Markov por dentro da camisa, encontrava-se um emblema anarquista, de prata, com cerca de 7 centímetros. Eu ficavatentando descobrir porque o levaram para ali,afinal, não era muito comum oficiais irem para aquele lugar, logo à frente de batalha. Mas o que importava para mim, era ele morrera como um herói, lutando pelo seu país.
Cerca de meia horadepois, chegam à nossa tenda, outros oficiais, com características físicassemelhantes, para buscá-lo. Pediram que os deixassem sozinhos para prestar suas homenagens.Eu bem quequeria ficar ali olhando, espiando em um canto secreto, mas outro fato roubou minha atenção. Entrava em nossa tenda outo soldado gravemente ferido, quase à beira da morte e quando me aproximei para ajudá-lo, era um de meus irmãos, o Cloud.Ele olhou para mim e sorriu,então segurei sua mão. Ele levou minha mão até seus lábios e a beijou e ainda com o mesmo sorriso, ele disse “Foi bom vê-la aqui, irmã.” Enquanto eu ouvia suas palavras, meus olhos rapidamente se encobriam de lágrimas, sabendo que aquela seria a ultima vez que ele me veria, e junto àquele sorriso, via sua vida se esvaindo pouco a pouco.
Mais uma vez os oficiaisroubavam minha atenção. Eles passavam ali com seu parceiro carregado nos ombros. Enquanto eu ainda segurava a mão de meu falecido irmão, olhava os oficiais se retirando da nossa barraca.Por um momento, talvez de devaneio, podia ter certeza de ter visto oolhar do guerrilheiro morto, quando sua corrente de símbolo anarquista caiu ao chão e os outros continuavam seguindo sem perceber.
Ainda me lamentando pelomeu irmão, tentava me recompor, afinal, era uma guerra, vidas iam a todo momento. Soltei sua mão e caminhei até o colar, pegando-o e guardando comigo. Achava que o que menos importaria para eles era um colar, ainda mais na situação em que estávamos. Depois, voltei, cobri o corpo de Cloud e me retirei dali por um momento para escrever a meus pais contando do trágico acontecimento. E dizendo que em breve seu corpo seria enviado a eles para sepultá-lo.
Depois,minha vida voltara ao “normal” atendendo aos outrosferidos que ali chegavam.
Após algum tempo decombate, achando que estava tudo tomado e fora de risco, o líder de nosso acampamento foi meio descuidado, baixando a guarda e deixando-nos vuleráveis.Quando, alguns dias depoisdesse descuido, somos alarmados, com o aviso de um iminente ataque ao acampamento. É certo que a maioria ali eram os soldados feridos em guerra, mas quanto menos pessoas pudessem empunhar uma arma, aindaque feridos, para nossos inimigos, eramelhor.Foi então dada a ordem deretirada do acampamento pois as tropas aliadas iriam tomar os postos e cuidar para que não fossemos invadidos. Quando estávamos terminando de retirar nossos feridos, ficando apenas alguns enfermeiros e auxiliares no local, fomos atacados subitamente, pelos alemães. Os carros partiam com os sobreviventes e quem estava ali acabou ficando para trás.
Para a sorte de algunspoucos, tropas russas já estavam a caminho. Era minha esperança de viver. É... mesmo sabendo os riscos que eu corria, eu tinha a esperança de sair viva dali, assim como qualquer pessoa que está em campo de batalha. É certo que eu não lutava diretamente contra nossos inimigos, mas ajudava a tratar de nossos combatentes que algum dia poderiam voltar para a guerra ou para suas casas. Enquanto eu me escondia e pensava no que poderia acontecer aos sobreviventes, minha tenda foi invadida por dois soltados alemães armados, cada um levando consigo, um olhar desesperado e sádico. Saíram dizimando todos os que ali ficaram, e eu, apenas presenciava ali todo aquele massacre, até chegar minha vez. Lá fora já haviam sinais de que nosso socorro chegara, mas para quem estava ali, naquela tenda, era tarde demais, inclusive para mim.
Em pouco tempo, meuolhar se dividia entre um combatente lá fora, que eu podia observar por uma fresta nos panos que cobriam a tenda, e os assassinos ali dentro.
Via o mesmo capitão que eu havia atestado a morte empunhandosua espada, a mesma que eu outrora eu achava ter apenas um valor simbólico, contra muitos inimigos, e junto a eles outros indivíduos, entre eles, os oficiais que foram buscar seu corpo, com a mesma postura e atitudes, partiam em vários pedaços, velozmente e sem qualquer receio, os alemães, que por sinal, também não pareciam tão normais quanto deveriam ser. A todo o momento caíam pedaços de corpos e sangue por todos os lados. Ali sentia realmente o cheiro da guerra, e via o que era ela, e via também algo que poucos olhos vivos puderam contemplar.
Eu os observava lutar.Todos eles pareciam apreciar aquele momento.Eles esboçavam em seus lábios, sorrisos, como se aquilo fosse alguma brincadeira, como se fosse algo que ao terminar, eles se sentariam e ririam juntos, contando como havia sido aquele momento. Mesmo com tantas mortes, tanto sofrimento, eles não paravam. Batiam, atiravam e decepavam sem menor receio, enquanto o chão se cobria com um lago rubro saído daqueles corpos estirados no campo de batalha.