Discussão: Governo indiano investiga fantasma em tribunal

Governo indiano investiga fantasma em tribunal


Ordo ab Chao ( Administrador )

(Com vídeo do fenômeno paranormal)

NOVA DÉLI— Durante o ano passado, uma série de eventos pouco comuns aconteceram em um tribunal no leste de Nova Déli. Livros desapareceram, barulhos estranhos foram ouvidos. Computadores e luzes pareceram ligar sozinhos.

Os funcionários do Tribunal Distrital Karkardooma começaram a se perguntar se o tribunal era mal-assombrado. Foi quando o comitê executivo de uma associação local de advogados convocou uma reunião, motivado pela ausência de provas, decidiu instalar um circuito de câmeras internas para descobrir o que realmente estava acontecendo.

— Primeiramente, estávamos preocupados porque pensávamos que alguém estava roubando os livros — disse Raman Sharma, secretário adjunto da Ordem dos Advogados de Shahdara. Mas ninguém sabia ao certo so o culpado era um ladrão de livros ou algo mais sobrenatural.

Ao abrir a investigação, a associação reuniu uma longa lista de outras autoridades que reclamaram de atividade paranormal na Índia, um país em que acredita-se viver em vários séculos ao mesmo tempo.

No ano passado, por exemplo, uma delegacia de polícia no estado central indiano de Madhya Pradesh foi fechada depois de um "espírito residente" aterrorizar constantemente o policial de plantão, de acordo com uma reportagem no jornal Times of India. Um deputado estadual abriu um inquérito. Em outra região, uma escola primária foi fechada temporariamente após um menino afirmar ter visto um fantasma em forma de ovo sair do quadro-negro.

As investigações oficiais da polícia apontam que as denúncias sobre eventos sobrenaturais ocorrem com regularidade.

— Nós aceitamos todas as denúncias, sejam elas contra zumbis ou lobisomens — contou um oficial da polícia ao Times no início deste ano, ao falar sobre outro assunto paranormal.

Contos fantásticos - de homens levitando, pessoas andando sob fogo, mágicos, estátuas religiosas que escoa água de açafrão - não são incomuns na Índia, uma cultura antiga, em que a linha entre a superstição e a crença é muitas vezes turva.

— Assim é como todo mundo na índia cresceu: ouvindo histórias de fantasmas — afirmou Sushil Sharma, um advogado que trabalha no tribunal desde 1989.

Nova Déli, a grande capital do país e local ontem mais de 16 milhões de pessoas moram, é conhecida como “Cidade dos Dijinns”, em referência aos gênios da tradição islâmica que habitam santuários e cemitérios da cidade. As notícias de assombração no tribunal “trazem um alívio as pessoas que temiam que os gênios seculares de Déli e os espíritos estavam sendo expulsos pelo processo de gentrificação — observou o site Scroll.

Mas há um lado sombrio nessas crenças. Em áreas tribais do leste da índia, as mulheres ainda são acusadas se serem bruxas — culpadas pela quebra de sabras e até pela infertilidade — e são espancadas e, algumas vezes, assassinadas. Moradores com pouco acesso a cuidados de saúde recorrem frequentemente aos xamãs ou aos curandeiros para obter ajuda. No ano passado, um proeminente racionalista ,que há muito se defendia de uma lei contrária à magia negra, foi morto a tiros enquanto fazia sua caminhada matinal na cidade de Pune.

Apenas a um quarteirão do tribunal, um outdoor anuncia os serviços de um curandeiro que pode resolver problemas inquietantes, que vão de casos de amor à possessão demoníaca.

— Temos um país com uma mentalidade do século 16 sobreposto ao século 21 — reclamou Narendra Nayak, presidente da Federação das Associações dos Racionalistas. —As pessoas vão usar seus telefones celulares para ver fantasmas e vamos fazer um puja [oração ritual] antes de enviar uma nave espacial para Marte. Muitas culturas aprenderam a superar essas coisas e ser mais racionais em sua abordagem, mas nós não conseguimos. Essa é a tragédia deste país.

O vídeo, granulado e escuro da associação dos advogados, tinha muito para satisfazer os crentes — círculos brancos flutuando, computadores ligando e desligando — e muito para levantar dúvidas.

— Era só um vírus — falou Madan Lal Karkar, uma advogada de 45 anos que estava, terça-feira, na pequena biblioteca cibernética que foi monitorada pelas câmeras. Apesar de Karkar estar jogando xadrez virtual, o local passou a ser pouco frequentado. A internet não está funcionando.

A biblioteca cibernética é um dos vários locais de concreto com corredores a céu aberto que durante o dia são frequentados por testemunhas, suspeitos, advogados com seus ternos pretos habituais e colarinho e um cachorro de rua ocasional.

Quando Sushil Sharma ouviu falar sobre as câmeras de de segurança do circuito fechado, ele sentiu um pouco vingado. Sharma afirmou que a atividade sobrenatural vem ocorrendo no tribunal há anos, desde que ele e um colega estavam retornando para duas casas de madrugada e ouviram batidas e viram um cadeado balançando descontroladamente para frente e para trás, aparentemente por conta própria. Agora, ele só sai do trabalho antes de anoitecer

— Eu estava completamente consciente. Eu não uso drogas, sou um advogado — falou ele. — Eu acredito que alguma coisa está acontecendo aqui. Precisamos falar sobre isso.

A associação dos advogados afirmou que pretende deixar o espírito sozinho, até que ele suma por conta própria.

Estava ficando tarde. Caiu a escuridão. A lua apareceu. Era hora de Sushil Sharma ir embora. Seu fantasma não parecia estar em evidência. Um de seus colegas que já estava desde cedo em um happy hour começou a cantar bêbado em seus aposentos. O som ecoou assustadoramente em todo o tribunal e chegou à rua movimentada.

Jalees Andrabi contribui para essa reportagem.



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