Discussão: O MITO DA RODA DO ANO

O MITO DA RODA DO ANO


Jaque Amaral ( Administrador )

O mito da Roda do Ano está centrado nas figuras do Deus e da Deusa. Estes representam os princípios fundamentais da natureza, sendo portanto deuses sem nome, ou deuses com muitos nomes, assumindo, no decorrer da narrativa, diferentes características particulares. Mas, de uma forma geral, Ela é a própria Terra, a mãe dos frutos e das dádivas naturais, enquanto Ele é o Sol, o princípio do qual a vida depende para desenvolver-se. Ela é perene, apesar de mutável, e Ele é antes mutável do que perene.

Embora, como o próprio nome diz, a história seja cíclica, não se podendo, portanto,
distinguir exatamente um início ou um fim, devemos escolher um ponto de partida. Que este seja, portanto, o final do inverno, quando, segundo o mito, tanto a Deusa quanto o Deus são pueris. A terra começa a livrar-se do peso da longa noite invernal, da estação infrutífera, ao passo que o sol, brilhando timidamente no céu, mal consegue aquecê-la. Nesse momento, tanto a Deusa quanto o Deus são crianças, frágeis como o próprio equilíbrio natural, no início de um novo ciclo.

No próximo momento, a primavera instaura-se. O sol começa a ganhar força e calor, permanecendo por mais tempo no céu, ao passo que, na terra, as flores abrem-se, aptas à
fecundação e prometendo os frutos que virão. É a estação juvenil e o tempo de fertilidade, onde o Deus e a Deusa são adolescentes, jovens prontos a se conhecerem e cheios do impulso sexual que os atrai e garante a perpetuação da natureza. Tempo de paixões, quando a bela Rainha da Primavera e o fogoso Gamo-Rei se conhecem e se apaixonam.

O tempo passa e agora, com a proximidade do verão, as sementes estão plantadas. A terra está prenhe dos filhos do sol, e o casamento entre os dois consumou-se. No ápice do verão temos o sol pleno em sua força, e seu calor nutre e guarda seus filhos, que gestam no ventre da terra. Nesse momento o Deus é o homem maduro, o guerreiro, o provedor e o protetor, enquanto a Deusa é a futura mãe.

À plenitude somente pode seguir-se o ocaso e, ao aproximar-se o outono, os dias tornam-se progressivamente mais curtos. As primeiras colheitas acontecem, aquelas que
trarão do ventre da Deusa os frutos de consumo imediato, aqueles que alimentarão os homens nos tempos de bonança. O Deus é o sábio e contido Rei do Azevinho, crescendo em sabedoria conforme sua força física diminui.
Estando instalado o outono e aproximando-se o inverno, os dias encurtam-se cada vez
mais. O sol brilha, a cada dia, menos tempo no céu, e seu calor diminui. A terra concede aos homens seus últimos frutos, justamente aqueles que possibilitarão a sobrevivência durante a longa noite que se avizinha.

No entanto, o grande mistério revela-se aqui. A criança que gesta no útero da Deusa é
o próprio Deus, que conforme perde a sua força à vista dos homens, cresce no ventre da Mãe, assegurando o eterno ciclo de morte e renascimento.

E o auge do inverno chega. Debilitada, enfraquecida pela longa gestação, a Deusa
recolhe-se às profundezas, preparando-se para parir seu filho divino. A longa noite invernal instaura-se, com a morte do Deus e, quando os dias são os mais curtos do ano, ao ocaso só pode sobrevir um novo início. Assim, a Grande Mãe, recolhida ao seu leito puerperal, dá à luz aquele que virá a ser seu consorte, e o Deus renasce como criação por ele mesmo engendrada.

Um novo ciclo começará.


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