Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira



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Confronto...


Bateu, Amor à porte da Loucura.

"Deixe-me entrar, pediu, sou teu irmão.

Só tu me limparás da lama escura

a que me conduziu a paixão"


A Loucura desdenha recebê-lo,

sabendo quanto o Amor vive de engano,

mas estarrece de surpresa ao vê-lo, de humano que era, assim tão inumano.


E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu".

Mais que ningém mereces habitar

minha casa infernal, feita de breu.


Enquanto me retiro, sem destino,

pois não sei de mais triste desatino

que este mal sem perdão, o mal de Amor"



Carlos Drummond de Andrade







Se eu fosse apenas...

Cecília Meireles

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Se eu fosse apenas uma rosa,

com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!

Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!

Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...






O velho e a flor

Vinicius de Moraes

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Por céus e mares eu andei,

Vi um poeta e vi um rei

Na esperança de saber

O que é o amor.


Ninguém sabia me dizer,

Eu já queria até morrer

Quando um velhinho

Com uma flor assim falou:


O amor é o carinho,

É o espinho que não se vê em cada flor.

É a vida quando

Chega sangrando aberta

em pétalas de amor.







Não Sei Como Te Dizer

São Reis




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Não sei como te dizer

que os meus olhos te buscam

que a minha voz te procura

que o meu peito bate em silêncio

e que são altas as copas das árvores.


Não sei como te dizer

que tremo com a tua ausência

e desfaleço na tua presença

como avanço e recuo

a uma só vez

e mesmo assim sinto que cresço.


Não sei como te dizer

que te vejo onde mora o vento

e abraço onde cada onda

beija o oceano.


Não sei como te dizer

que sem ti é triste o meu viver

que te vejo sem te ver

que me arrasto

onde os meus olhos se perdem

E que te amo... mas amo!!!





Se te amo, não sei!

Gonçalves Dias

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Amar! se te amo, não sei.

Oiço aí pronunciar

Essa palavra de modo

Que não sei o que é amar.


Se amar é sonhar contigo,

Se é pensar, velando, em ti,

Se é ter-te n'alma presente

Todo esquecido de mim!


Se é cobiçar-te, querer-te

Como uma bênção dos céus

A ti somente na terra

Como lá em cima a Deus;


Se é dar a vida, o futuro,

Para dizer que te amei:

Amo; porém se te amo

Como oiço dizer, — não sei.






Eu amo o gênio


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Eu amo o gênio, cujo raio esplêndido

Tirou-me o pranto no pungir da dor;

Há sempre um gozo no correr das lágrimas,

Há sempre um riso no murchar da flor…


Vê-se no templo se elevar o incenso

Puro, expressivo que se queima aí;

E Deus aspira o matinal perfume

D’etéreas flores que espalhou em ti…


Quando, sublime de sofrer, um’alma

Rompe dos prantos o sombrio véu,

São glórias tuas, virginais desmaios,

Quedas de rosas nos jardins do céu.


E quem não sente clarear o sonho,

A ideia santa dum viver melhor?

E as harmonias dum amor que torna

A fronte altiva, o coração maior?


Na voz dos mares, na expressão dos ventos

Há um mistério de fazer pensar…

Nas forças d’alma, no poder do gênio

Há um segredo que me faz chorar…


Tobias Barreto 

1839-1889)






Noite de chuva

Florbela Espanca


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Chuva... Que gotas grossas!...Vem ouvir:
Uma ... duas... mais outra que desceu...
É Viviana, é Melusina, a rir,
São rosas brancas dum rosal do Céu...

Os lilases deixaram-se dormir...
Nem um frémito... a terra emudeceu...
Amor! Vem ver estrelas a cair:
Uma... duas... mais outra que desceu...

Fala baixo, juntinho ao meu ouvido,
Que essa fala de amor seja um gemido,
Um murmúrio, um soluço, um ai desfeito...

Ah! deixa à noite o seu encanto triste!
E a mim... o teu amor que mal existe,
Chuva a cair na noite do meu peito!






Tu Que Me Deste O Teu Cuidado...

Manuel Bandeira

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Tu que me deste o teu carinho

E que me deste o teu cuidado,

Acolhe ao peito, como o ninho

Acolhe ao pássaro cansado,

O meu desejo incontentado.


Há longos anos ele arqueja

Em aflitiva escuridão.

Sê compassiva e benfazeja.

Dá-lhe o melhor que ele deseja:

Teu grave e meigo coração.


Sê compassiva. Se algum dia

Te vier do pobre agravo e mágoa,

Atende à sua dor sombria:

Perdoa o mal que desvaria

E traz os olhos rasos de água.


Não te retires ofendida.

Pensa que nesse grito vem

O mal de toda a sua vida:

Ternura inquieta e malferida

Que, antes, não dei nunca a ninguém.


E foi melhor nunca ter dado:

Em te pungido algum espinho,

Cinge-a ao teu peito angustiado.

E sentirás o meu carinho.

E sentirás o meu cuidado.






Lua Branca

Chiquinha Gonzaga

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Oh, lua branca de fulgores e de encanto

Se é verdade que ao amor tu dás abrigo

Vem tirar dos olhos meus o pranto


Ai, vem matar essa paixão que anda comigo

Oh, por quem és desce do céu, oh lua branca

Essa amargura do meu peito, oh, vem, arranca


Dá-me o luar de tua compaixão

Oh, vem, por Deus, iluminar meu coração

E quantas vezes lá no céu me aparecias


A brilhar em noite calma e constelada

E em tua luz então me surpreendias

Ajoelhado junto aos pés da minha amada


E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo

Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo

Ela partiu, me abandonou assim

Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim







Quando Tu Choras...

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Quando tu choras, meu amor, teu rosto

Brilha formoso com mais doce encanto,

E as leves sombras de infantil desgosto

Tornam mais belo o cristalino pranto.


Oh! nessa idade da paixão lasciva

Como o prazer, é o chorar preciso:

Mas breve passa - qual a chuva estiva -

E quase ao pranto se mistura o riso.


É doce o pranto de gentil donzela,

É sempre belo quando a virgem chora:

- Semelha a rosa pudibunda e bela

Toda banhada do orvalhar da aurora.


Da noite o pranto, que tão pouco dura,

Brilha nas folhas como um rir celeste,

E a mesma gota transparente e pura

Treme na relva que a campina veste.


Depois o sol, como sultão brilhante,

De luz inunda o seu gentil serralho,

E às flores todas - tão feliz amante -

Cioso sorve o matutino orvalho.


Assim, se choras, inda és mais formosa,

Brilha teu rosto com mais doce encanto:

- Serei o sol e tu serás a rosa…

Chora, meu anjo, - beberei teu pranto!


Casimiro de Abreu




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