Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira

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No meio do caminho

Olavo Bilac


Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada

E triste, e triste e fatigado eu vinha.

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma povoada de sonhos eu tinha...


E paramos de súbito na estrada

Da vida: longos anos, presa à minha

A tua mão, a vista deslumbrada

Tive da luz que teu olhar continha.


Hoje segues de novo... Na partida

Nem o pranto os teus olhos umedece,

Nem te comove a dor da despedida.


E eu, solitário, volto a face, e tremo,

Vendo o teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo.





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Natal

Fernando Pessoa


O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.


E é tão lento o teu soar,

Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.


Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.


A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.






Estrela

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Quisera ser tua estrela

A iluminar-te graciosamente

Nas noites mais enegrecidas.


Uma estrela sem nome,

Sem renome algum.


Um astro cadente

Decadente

Carente

A cair em teus braços.


Na incoerência desse encanto,

Ao ver o desenhar de luzes no amanhecer dos teus olhos,

Desdenhar de todos os demais mortais.


Do orvalhar do teu corpo,

Reinventar mil modos de saciar-me a sede da tua essência.

Aprender os segredos do teu sorriso,

Destilar em teus lábios o quanto deles preciso

E precipitar-me na ilusão de amar-te, indefinidamente.


Quisera ser tua estrela,

Em uma noite densa e fria,

Quando ainda mais se evidenciasse o calor das almas.

E estas nossas almas, há tanto conhecidas,

Ensinariam nossos desconhecidos corpos

A trilharem os mil sonhos a que me proponho.


Depois disso eu perguntaria o teu nome,

Antes que a tua aurora me embargasse a luz


Nara Rúbia Ribeiro




Eu queria trazer-te uns versos muito lindos.

Mário Quintana

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Eu queria trazer-te uns versos muito lindos.
colhidos no mais íntimo de mim…
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir…
Sim! uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel.
Trago-te palavras, apenas…e que estão escritas
do lado de fora do papel…
Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia…
como
uma pobre lanterna que incendiou.



Amor mais que imperfeito

Thiago de Mello

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Não do amor. De mim duvido.
Do jeito mais que imperfeito
que ainda tenho de amar.

Com frequência reconheço
a minha mão escondida
dentro da mão que recebe
a rosa de amor que dou.

Espiando o meu próprio olhar,
escondido atrás estou
dos olhos com que me vês.
Comigo mesmo reparto
o que pretende ser dádiva,
mas de mim não se desprende.

Por mais que me prolongue
no ser que me reparte,
de repente me sinto
o dono da alegria
que estremece a pele
e faz nascer luas
no corpo que abraço.

Não do amor. De mim duvido
quando no centro mais claro
da ternura que te invento
engasto um gosto de preço.
Mesmo sabendo que o prêmio
do amor é apenas amar.



Cantiga quase de roda

Thiago de Mello

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Na roda da vida
lá vai o menino
trazendo contente
um canto no peito
na fronte uma estrela.

Mal chega e descobre
que o mundo é feroz
e o tempo é de sombras.
Os homens caminham
calados, sozinhos,
com medo de amar.

De pena, o menino
começa a cantar.
(Cantigas afastam
as coisas escuras).

Portanto ele sabe
que os homens, embora
se façam de fortes,
se façam de grandes,
no fundo carecem
de aurora e de infância.

Na roda do mundo,
ao lado dos homens,
lá vai o menino
rodando e cantando
seu canto de amor.

Um canto que faça
o mundo mais manso,
cantigas que tornem
a vida mais limpa,
um canto que faça
os homens mais crianças.

O menino entrega ao mundo
o dom da sabedoria
que nasce do coração.
Porque é do amor e da infância
que o mundo tem precisão.



Não te esqueças de mim

Fagundes Varela

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Não te esqueças de mim, quando erradia
Perde-se a lua no sidéreo manto;
Quando a brisa estival roçar-te a fronte,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando escutares
Gemer a rola na floresta escura,
E a saudosa viola do tropeiro
Desfazer-se em gemido de tristura.

Quando a flor do sertão, aberta a medo,
Pejar os ermos de suave encanto,
Lembre-te os dias que passei contigo,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando à tardinha
Se cobrirem de névoa as serranias,
E na torre alvejante o sacro bronze
Docemente soar nas freguesias!

Quando de noite, nos serões de inverno,
A voz soltares modulando um canto,
Lembre-te os versos que inspiraste ao bardo,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando meus olhos
Do sudário no gelo se apagarem,
Quando as roxas perpétuas do finado
Junto à cruz de meu leito se embalarem.

Quando os anos de dor passado houverem,
E o frio tempo consumir-te o pranto,
Guarda ainda uma idéia a teu poeta,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.




Até quando terás, minha alma, esta doçura

Cecília Meireles

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Até quando terás, minha alma, esta doçura,

este dom de sofrer, este poder de amar, a força de estar sempre – insegura – segura como a flecha que segue a trajetória obscura, fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?






Eu carrego o teu coração comigo

E.E. Cummings

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Eu carrego o teu coração comigo

Eu carrego-o no meu coração

Eu nunca estou sem ele


Onde quer que vá, tu vais minha querida

E o que quer que faça sozinho

Eu faço-o por ti.


Não temo o meu destino

Porque tu és o meu destino minha querida

Eu não quero o mundo por mais belo que seja

Porque tu és o meu mundo, minha verdade.

Este é o maior dos segredos que ninguém sabe.


Tu és a raiz da raiz

O botão do botão e o céu do céu

De uma árvore chamada VIDA

Que cresce mais que a alma pode esperar ou

a mente esconder

E esse é o milagre que distancia as estrelas


Eu carrego o teu coração

Carrego-o no meu

Coração.


Edward Estlin Cummings





Se você me esquecer
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Eu quero que saiba
Uma coisa.
Você sabe como é isto:
Se eu olho
Para uma lua de cristal, em um ramo vermelho
De um outono vagaroso na minha janela,
Se eu toco
Próximo ao fogo
A cinza impalpável,
Ou a rugosidade de um tronco,
Tudo me transporta a você,
Como se tudo que existe, aromas, luzes, metais,
Fossem pequenos barcos
Que velejam
Em direção àquelas ilhas suas que esperam por mim.

Bem, agora
Se pouco a pouco você deixar de me amar
Eu deixarei de te amar pouco a pouco.

Se subitamente você me esquecer
Não procurar por mim
Eu já terei esquecido você.

Se você acha intenso e louco,
o vento dos estandartes
Que passam através da minha vida,
E você decide

Deixar me às margens
Do coração onde tenho raiz,
Lembre-se
Que naquele dia,
Naquela hora,
Eu levantarei os meus braços
E as minhas raízes despontarão
Para procurar por outras terras.
Mas,
Se a cada dia,
A cada hora
Você sente que está destinada a mim
Com uma implacável doçura,
Se cada dia uma flor
Subir aos seus lábios para procurar-me,
Ah meu amor, ah minha posse,

Em mim todo aquele fogo é repetido,
Em mim nada é extinto ou esquecido,
Meu amor alimenta-se no seu amor, querida,
E pelo tempo que viver estará nos seus braços
Sem deixar os meus.

( If you forget me - Pablo Neruda - tradução prof. Nelson Francisco de Andrade )


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