Discussão: Loiva ferreira

Loiva ferreira



Poema da fascinação
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Vou a ti
Como quem vai,
Antes e depois da Morte,
Para onde lhe ordena o Destino...
Vou a Ti,
Seguindo a luz dos teus olhos,
Subindo por ela,
Caminhando pelo teu olhar
Como por uma escadaria d'astros...
O teu vulto,
Lá em cima,
É um palácio branco a atrair-me...
Quando chegarei,
Ó eleito,
Diante de Ti?
Quando descerrarás
As tuas portas de luz,
Para receberes
Os lírios e as rosas odorantes
Que andei colhendo
Para te ofertar?
Não demores,não tardes,
Ó eleito
Que eu vou a Ti
Como quem vai,
Antes e depois da Morte,
Para onde lhe ordena o Destino...

Cecília Meireles
in Poesia Completa




Canção da tarde no campo
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Caminho do campo verde,
estrada depois de estrada.
Cercas de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

(Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.)

Meus pés vão pisando a terra
que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

(Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a flor é minha.)

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua:
vou chegando, vais fugindo
minha alma é a sombra da tua.

(Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.)

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto.
Subo monte, desço monte,
meu peito é puro deserto.

(Eu ando sozinha,
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.)

Cecília Meireles
In Obra Poética





Os pobres
Olavo Bilac

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Aí vêm pelos caminhos,
Descalços, de pés no chão,
Os pobres que andam sozinhos,
Implorando compaixão.

Vivem sem cama e sem teto,
Na fome e na solidão:
Pedem um pouco de afeto,
Pedem um pouco de pão.

São tímidos? São covardes?
Têm pejo? Têm confusão?
Parai quando os encontrardes,
E dai-lhes a vossa mão!

Guiai-lhe os tristes passos!
Dai-lhes, sem hesitação,
O apoio do vossos braços,
Metade de vosso pão!

Não receeis que, algum dia,
Vos assalte a ingratidão:
O prêmio está na alegria
Que tereis no coração.

Protegei os desgraçados,
Órfãos de toda a afeição:
E sereis abençoados
Por um pedaço de pão…




Pensamento

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Às vezes vai distante

Como se nosso nem fosse

Uma nesga faiscante

Um hálito de ideia doce


Tem força e jus

Tamanho e dimensão

Velocidade superior à luz

Leva dúvida ou traz compreensão


Pensamento é vida

Nasce na mente

Às vezes por inspiração sofrida

Vem de dentro da gente


Do bem ajuda em todos temas

Do mal gera só problemas

Flui como energia suja ou pura

Pensamento bom promove até a cura


É libertário ou tensão

Ou se precário é prisão

É legítimo em cada um de nós

Praticamente a única forma de ficarmos a sós


Pensar em Deus Pai amoroso

Na Sua criação em a Natureza

Em nós e no Mestre Jesus bondoso

Bom pensamento é pura beleza


Poesia Espírita - Mensaem do Bem




Olhar distante
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Olhar distante perdido no tempo
Embriagado pela necessidade de viver
Coração acelerado voa em pensamentos
Que são impossíveis de esquecer.

Brilho penetrante cheio de mistério
Revelando a nudez de uma grande dor
Desvenda-se nas razões mais profundas
Encontrando-se no universo do amor.

Percorre o ínfimo dos caminhos
Tentando por tudo fugir da solidão
Vagueia perdido em seu sentido
E se encontra na fenda partida do coração.

A memória fica com suas inquietudes
Diante das loucuras da razão...
Horizonte tatuado de palavras escassas
Perdida na pretenda direção.

Esconde-se em um vale silencioso
Tentando o aperto do peito desfazer
Busca visualizar o sorriso amoroso
Que um dia o fez reviver.

Lembrança constante clareia o caminho
Sem perder o rumo que definiu o coração
Intensa luz no olhar que insinua o carinho
Que se perdeu e ficou rendido à solidão!

Poemas de Belarose




Adormecida 
Castro Alves

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Uma noite eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras
Iam na face trêmulos — beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava, ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! — tu és a virgem das campinas!
"Virgem! tu és a flor da minha vida!..

♥.




Saudades
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Saudades! Sim... Talvez... e porque não?... Se o nosso sonho foi tão alto e forte. Que bem pensara vê-lo até à morte. Deslumbrar-me de luz o coração! Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão! Que tudo isso, Amor, nos não importe. Se ele deixou beleza que conforte. Deve-nos ser sagrado como o pão! Quantas vezes, Amor, já te esqueci, Para mais doidamente me lembrar, Mais doidamente me lembrar de ti! E quem dera que fosse sempre assim: Quanto menos quisesse recordar. Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca





Cegueira Bendita
Florbela Espanca
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Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago...
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho...

Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!...

E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!

in "A Mensageira das Violetas"




A tua voz na primavera
Florbela Espanca
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Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!





E o Destino Desfolhou
Gastão Lamounier e Mário Rossi

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O nosso amor traduzia
felicidade e afeição
suprema glória que um dia
tive ao alcance da mão

Mais veio um dia o ciúme
o nosso amor se acabou
deixando em tudo o perfume
da saudade que ficou

Eu te vi a chorar
vi teu pranto em segredo correr
e partir a cantar
sem pensar que doia esquecer

Mais depois veio a dor
sofro tanto e esta valsa não diz
meu amor de nós dois
eu não sei qual é mais infeliz

Os nossos olhos choraram
o nosso edilio morreu
os nossos lábios murcharam
porque a renúncia doeu

Desfeito em uma saudade
humilde quieta ficou
mostrando a felicidade
que o destino desfolhou




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