Texto de hoje: Vale a pena ser radical?
Imagine um muro alto e de extensão considerável. Nele, apenas um pequeno buraco cuja abertura te permite ver muito pouco. Porém, tal orifício permite conversar com quem está do outro lado. Agora imagine que a pessoa que está em um lado, assim como a que está no outro, tenta incessantemente convencer que o seu lado é mais belo e atrativo que o outro. E isso mesmo sem conseguir ver praticamente nada do que há para além do muro. Eis aqui a forma como discutimos praticamente todos os assuntos atualmente.
Quanto mais radical você for, menor é o buraco no muro. Há um pensamento extremista, e isso em qualquer polaridade que você conseguir pensar neste instante, no sentido de simplesmente não tentar compreender o ponto de vista alheio. Você acredita estar certo. Acredita estar montado em uma verdade absoluta, como se ela pudesse existir, e de lá prega cegamente o que acredita ser "certo".
Esta polarização com pitadas de extremismo não é nova, a diferença contemporânea é uma recente ferramenta que permite a viabilização da nossa opinião: a internet. É justamente em algo tão inovador que transparecemos quão arcaicos nos encontramos. Basta abrir os comentários de qualquer site de notícias que saltará aos olhos uma sequência de opiniões preconceituosas, racistas, homofóbicas, machistas, xenófobas, e por aí vai. O leque é gigantesco.
Nas discussões atuais, raramente verificamos a tentativa de visualizar o que há do outro lado do muro. Na realidade, nem nos importamos com o que pode existir lá. Defendemos impiedosamente o nosso lado e atacamos aquilo que nem conhecemos. E estamos falando de um ataque que varia desde a utilização de xingamentos chulos e pesados, até a lógica infantil de deletar da rede social aquele que discorda de mim.
Ao iniciar uma conversa sobre algum assunto polêmico, sempre me faço a seguinte pergunta: Será que essa pessoa está disposta a entender o meu ponto de vista assim como estou me dispondo a entender o dela? Se a percepção for negativa, nem começo a discussão. Um debate só é possível se você estiver disposto a enxergar para além do muro. Caso contrário, ficaremos somente na rarefeita atitude radical de olhar apenas para o próprio umbigo. E é justamente este formato de comportamento que nos permite uma completa estagnação. Há uma relação direta entre o extremismo radical e a apatia e inércia vigente.
Certamente, não é na cegueira promovida pela radicalidade que conseguiremos dar novos passos.