Amor é fogo que arde sem se ver
(Luís Vaz de Camões)
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Amar e ser amado
(Castro Alves)
Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz… que pensamento!
Adultos
(Vladímir Maiakóvski)
Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem teto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão,
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jatos de água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais — eu sei,
qualquer um o sabe —
O coração tem domicílio
no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração —
em todas as partes palpita.
Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.
Beijos e ter a imagem de seus reflexos,
e abrigos alados,
lamentos à noite e signos de recolher os seus olhos,
ignorância dos males vindos.
ignorância e harmonizar o bem com erros,
doi, embora aos ciganos horrorizados,
a amizade é um amor que não se comunica através dos sentidos.
Danças que toca o fraco nos cantos,
o amor é a poesia do homem que faz versos,
a asa da vista através dos ventos,
manjerona e lírios.
O amor conjugal é o mais forte de todos, enquanto restos,
reaparece ao longo dos enrolamentos,
faz corações bater harmonias como os idosos.
E advertem nas ondas de olhos sombrios,
na chamada torre e dormir em estábulos,
e ali, a mulher do amor, que me levou em seus braços,
talento e poder a dar me muitos elogios.