A GARGANTA ESTAVA ENTERRADA profundamente na terra, debaixo do leito do frio oceano Atlântico. O sítio em torno enegrecera devido ao contato, e nada crescia ou vivia ali perto. O mesmo acontecia com todos os outros sítios onde estavam enterrados os restos mortais de Ozryel. A carne angélica permanecia incorrupta e inalterável, mas seu sangue infiltrava-se na terra e lentamente irradiava-se para fora. O sangue tinha vontade própria, cada filete movia-se cegamente, instintivamente para cima, atravessando o solo, escondido do sol, procurando um hospedeiro. Foi assim que os vermes sanguíneos nasceram. Eles continham dentro de si os remanescentes do sangue humano, que coloriam seu tecido e guiava-os na direção do cheiro de seu hospedeiro potencial. Mas também transportavam a vontade de sua carne original. A vontade dos braços, das asas, da garganta... Seus minúsculos corpos se retorciam cegamente, percorrendo as maiores distâncias. Muitos dos vermes morreram, emissários inférteis calcinados pelo cruel calor da terra, ou detidos por um obstáculo geológico impossível de transpor. Todos se desgarraram de seus sítios de nascimento, alguns até mesmo foram transportados involuntariamente mundoafora por vetores animais e insetos. Finalmente encontravam um hospedeiro e penetravam profundamente sob a pele, como parasitas que eram. No começo precisavam de semanas patogênicas para suplantar, ou sequestrar, a vontade e o tecido da vítima infectada. Até mesmo parasitas e vírus aprendem por meio de tentativa e erro, e esses aprenderam. Já no quinto hospedeiro humano, os Antigos começaram a dominar a arte de sobrevivência e suplantação. Estenderam seu domínio pela infecção e aprenderam a jogar pelas novas regras terrestres. E se tornaram mestres nesse jogo.
— O sítio do enterro? — perguntou Vasiliy.
— Não sei como se chama hoje. O nome original dado pelos nativos norte-americanos para a ilha era "Ahsцdagц-wah". Traduzido grosseiramente da língua onondaga como "Lugar Escuro" ou "Lugar Negro".