A noite estava quente e a lua cheia clareava as ruas do morro de Santa Teresa. É ótima para um jogo de buraco na rua quinze, pensou Zé Pelintra. Zé tomou um bom banho, passou o perfume que ganhou da moça da mercearia do Pai Antonio. Vestiu seu impecável terno branco, mas a noite estava muito quente então vestiu sua camisa branca de listras vermelhas. Calçou o sapato que ganhou de uma das meninas do cabaré de Maria Padilha. A moça tinha juntado dinheiro para aquele sapato por quase três meses para o presentear, era mais uma moça encantada pelo charme do famoso malandro de Santa Teresa. Mas, Zé não tinha nenhum interesse pela moça, entretanto nunca recusava um bom presente. Um sapato bicolor branco e vermelho as cores preferidas do famoso malandro de branco do Morro de Santa teresa. Diante do espelho deu seus últimos retoques, colocou seu chapéu panamá. Vendo que estava bem apresentado saiu em direção a mais um jogo com seus amigos da Rua Quinze.
Ao chegar à Rua quinze no início da tarde, sentou-se à mesa sorridente e confiante. O homem tinha uma sorte de dá inveja. Não tinha jogo que Zé perdia, dominó, buraco, bilhar ou qualquer outro o homem sempre ganhava. As vezes ele perdia de propósito apenas por diversão, ou por algum esquema com seus amigos. As horas foram se passando e a confiança de Zé aumentava a cada vez que ele ganha entre uma rodada e outra. Zé já tinha ganhando muito dinheiro e já estava cansado de ficar sentado. Retirou-se da mesa de jogo e seguiu para o final da rua onde acontecia uma roda de Samba. se tinha samba, tinha Zé no meio da roda. O homem dançou com uma moça e outra, as moças da roda faziam fila para dançar com aquele formoso negro de terno branco. Já era meia noite e para Zé a diversão só estava começando. Sentou-se em uma mesa do bar do fim da rua e pediu uma garrafa de cerveja, para ver as mulheres do morro passar. Como um bom galanteador, não mexia com mulher casada, mas sempre que passava uma solteira e olhasse para seu Zé logo ele tirava o chapéu e dava seu sorriso maroto. Ascendeu um cigarro e ficou fumando. Um homem alto de capa preta e cartola se aproximou da sua mesa e estendeu a mão dizendo: “Boa noite! O senhor poderia me pagar uma cachaça?” Seu Zé nunca recusava para um amigo ou estranho um de copo de pinga. O homem tinha um coração bom e tinha um jeito cortês de tratar a todos. "Boa noite! Pois sente homi! Garibe! Trás uma garrafa de pinga aqui para nós!" O senhor está com fome? O misterioso homem pegou a cadeira e sentou. Era estranho aquele homem usar uma capa preta e grossa naquele calor, mas para Zé se tratava de um homem de rua. Zé achou o homem estranho, mas não sentia medo. O homem fazia um barulho estranho, como se estivesse rosnando, não fedia, mas pelo contrário era um homem que tinha um cheiro bom. Apensar de sua aparência ser sombria, algo nele trazia paz. "Eu gostaria de comer um prato de farofa com muita pimenta". Respondeu o homem misterioso. Após alguns minutos garçom do bar trouxe uma garrafa de cachaça e um prato de farofa. O homem colocou em seu copo de cachaça uma pimenta e bebeu em um único gole. Em sequencia o homem comeu aquele prato com vontade, parecia não comer a muito tempo. Seu Zé simpatizou com o homem e ficaram bebendo até a uma da madrugada com o estranho de cartola. "Garibe trás mais uma garrafa de pinga! Amigo, vamos para mais uma rodada de cachaça?" Perguntou Zé que estava curioso com relação aquele homem. Com pouco tempo de conversa ele percebeu que não se tratava de um homem de rua, mas algo nele o deixava curioso. "Não, muito obrigado! Já tenho que ir embora." "Tão cedo? Agora que a prosa estava começando a ficar boa. Pois está bem. Me diz seu nome então." O homem deu uma risada alta e macabra, seu Zé sem entender sentiu vontade de rir também. "Pode me chamar de Exú" E em um piscar de olhos o homem de cartola sumiu. Seu Zé não entendeu, não sabia dizer foi a cachaça ou se era o sono. Mas o prato e o copo ainda estava na mesa, então aquele homem esteve ali. Mas como ele sumiu? Seu Zé olhou para todos os lados,mas não o encontrou. Então Seu Zé se levantou da mesa e volto para casa.